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Crianças superdotadas são menos de 0,04% dos estudantes no Brasil

País tem 19.699 alunos com superdotação ou altas habilidades estudando na educação básica. Em SP, a rede municipal registrou 42 casos

Jornalista Fernando Nascimentho | Postado em:

Crianças superdotadas são menos de 0,04% dos estudantes no Brasil
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O Brasil tem 19.699 alunos com superdotação ou altas habilidades matriculados na educação básica em todo país, segundo dados do Censo Escolar de 2017 do Ministério da Educação. O número representa apenas 0,04% dos mais de 48 milhões de alunos matriculados nesta fase escolar. Em São Paulo, a rede municipal de ensino registrou 42 alunos com esse perfil.

A maioria destes alunos estudam em classes comuns, misturados a outros alunos. Apenas 248 crianças estudam em escolas exclusivas ou especializadas para o atendimento de superdotação.

Ada Toscanini, presidente da APAHS (Associação Paulista para Altas Habilidades e Superdotação), afirma que os números são baixos pois existe uma subnotificação.  "As escolas e até mesmo os pais não estão preparados para identificar e principalmente trabalhar e desenvolver o potencial de crianças com superdotação ou altas habilidades", afirma.

No início deste ano, o MEC iniciou um trabalho para cadastrar crianças com superdotação e altas habilidades no país, mas o projeto ainda está em desenvolvimento. A ideia é mapear os alunos com este perfil e elaborar um plano adequado para desenvolver o potencial destas crianças.

"Elas precisam ser estimuladas e compreendidas, pois desenvolvem e perdem interesse para determinados assuntos com muita facilidade, então é um desafio para o professor, que neste tipo de ensino faz o papel de mediador com a criança", ressalta Ada.

Entidades como a APAHS (Associação Paulista para Altas Habilidades e Superdotação) desenvolvem, sem ajuda do setor público, atividades e atendimento especializado na educação de crianças com este perfil. Durante pouco mais de duas horas, o R7 conversou com alguns alunos da associação sobre diversos assuntos que revelam o potencial de interesse e capacidade destas crianças.

O que pensam essas crianças?

Isabela Yamamoto está preocupada com o grande número de fábricas que emitem poluentes no planeta. João Pedro busca entender se existe a possibilidade de a Terra ser extinta em algum momento de sua vida. Guilherme Bertolani acha que a corrupção no setor público prejudica as pessoas. Já Guilherme Chem anda preocupado com o seu futuro e teme não conseguir se aposentar.

Preocupações absolutamente normais, se não fossem apenas crianças. Isabela tem 7 anos, João, 8, Guilherme, 9, e Chem, 11. Como toda criança gostam de brincar, conversar, são curiosos e inteligentes. Só que nesse caso muito mais inteligentes que a média. 

Com a doçura típica de uma menina de 7 anos, mesmo em meio a sua preocupação em eliminar o problema da poluição no planeta, Isabela conta que adora poder conversar e brincar com uma amiga vizinha, com quem também faz aulas de natação.

João já é um tanto mais inquieto. Gosta de gesticular, falar e é bastante desinibido. Em um destes momentos conta sobre o insucesso de sua última experiência química. "Tentei pegar o bicarbonato para fazer uma experiência, mas minha vó não deixou", diz ele lamentando.

Guilherme tem um vocabulário impecável. Gosta de observar a cidade onde vive e reclama das condições do seu bairro. “Está muito feio, muita pichação, muito entulho jogado nas ruas, algo precisa ser feito", afirma com ar de quem busca uma solução.

Chem é mais tímido. Fala pouco, mas se expressa muito bem quando quer expor o que pensa. Fã de games, ele conta orgulhoso que faz um curso para desenvolvimento de jogos. "Eu adoro ir para o curso de programação, já ganhei até um prêmio por um projeto que montei lá", me explica o garoto, lamentando que seu Nintendo DS está com um problema.

Bullying é uma preocupação em comum. "É um jeito de provocar os mais fracos porque eles não têm capacidade de se defender", reflete com cautela Chem.

"Pra mim é tipo: você não sabe fazer certa coisa. Então leva dor pra casa!", complementa João. "Eu já acho que zombar de alguém por algo que não ela consegue fazer não é justo, é errado", diz Isabela com ar de reprovação. Guilherme, por fim, diz que concorda com todos e que "tudo que eles disseram representa o bullying e isto é algo terrível".

Pequenos com grandes argumentos 

A sensação é de estar numa roda de amigos da universidade. Todos com argumentos consistentes e muitas vezes com divergências entre si. Em um momento ou outro, um deslize ou outro, lembra que aquela conversa é entre crianças.

Química, astrofísica e planejamento urbano são alguns dos temas de interesse comum. Durante o papo, eles apresentam um projeto em que trabalharam nos últimos dias: uma horta urbana.

Orgulhosos e com a propriedade de "biólogos", eles explicam que tiveram cuidado de selecionar para a horta, montada em um caixote de feira, hortaliças e frutíferas de pequeno porte que pudessem se desenvolver com condições limitadas de luz e até de espaço. 

Sonhos de criança

No fim da conversa, pergunto para o grupo seus sonhos de criança. Chem diz querer terminar seu robô de papelão, João quer ir a um show de um Youtuber de games e Isabela quer viajar para a Disney. Já Guilherme, emociana as duas mediadoras que acompanhavam a conversa: ele quer aproveitar muitos seus pais enquanto eles estiverem vivos.

Um sinal de que mesmo com mentes tão brilhantes, seus sonhos são simples como os de qualquer criança.

 

Do R7

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